sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

IDEAL João Belarmino

IDEAL João Belarmino é formado por um professores, pesquisadores e demais interessados no estudo e no debate de questões relativas a história social de Sertãnia e a pesquisa acadêmica em geral grupo de pós-graduandos na UPE- Caruaru , em Sociologia e Língua Portuguesa ; Álvaro Góis, Josessandro Andrade, João Lúcio, Isidoro Simões, esperando ainda contar com a colaboração de outros como Claúdio Góis(Tota) e Luiz Pinheiro Filho.
João Belarmino foi líder estudantil ,jogador de futebol, professor e advogado em Sertãnia, vítima da perseguição do golpe miltar de 1964, foi preso político. Mais tarde radicou-se em Arcoverde-PE onde tornou-se vereador e líder da resit~encia democrática a o arbítrio da ditadura. João Miudinho este sim é de esquerda, este sim é socialista de verdade!!!!

OS IDEAIS LIBERTÁRIOS NA PRINCESA DO MOXOTÓ

JOSESSANDRO ANDRADE

Ao contrário do que pensam os diletantes, Sertânia é um município onde seu povo tem toda uma tradição de rebeldia e independência.Os ideais libertários estão na formação de sua gente, com Joaquim Alves de Siqueira, que participou da Revolução Praieira, no Recife, Entre 1848 E 1852, da qual gerou o sentimento nativista a originar nomes de famílias como PATRIOTA, BRASILEIRO, PERNAMBUCANO E BRASILIANO, este último adotado pelo nosso revolucionário, QUE PASSA A ASSINAR-SE Joaquim Brasiliano De Siqueira.
A ideologia do socialismo aportou em Sertânia ainda no final da década de 1930, através daquele que pode ser tido como um dos primeiros comunistas do sertão : José Nobre Formiga, que em 1937 foi perseguido pelo estado novo e em 1964, seria pelo Regime militar. Nobre Formiga, que hoje é nome de rua na vila da COHAB, é o pai da Professora Sílvia Araujo, casada com o músico Demétrio Dias Araujo,Ambos pais de Walldir, Inalda, Walter, Marcone, Eliane, médicos, professores e bioqímicos.
Já nos anos 40, promotor público em Sertânia , o Dr. Paulo Cavalcanti, Fundou a Biblioteca Joaquim Nabuco, do América E. C., foi redator do Jornal FOLHA DO SERTÃO,(editado por Paulo Oliveira) e organizou um comício pela paz, com a vitória das forças aliadas na segunda guerra mundial, reunido mais de cinco mil pessoas na praça central da Cidade. Mais tarde, Paulo Cavalcanti seria advogado de presos políticos, deputado estadual um dos mais valorosos quadros do Partido Comunista Brasileiro(PCB).
Em 1946, as oligarquias rurais e a burguesia industrial e comercial sertaniense, encastelada nos partidos tradicionais da época, PSD e UDN, tomaram um susto com o resultado das eleições presidenciais no povoado de Caroalina, que pertence ao município de Sertânia. É que os operários da fábrica desfibradora de caroá, do empresário e cacique Político Epaminondas Morais, ao invés de votarem no candidato do patrão, sufragaram emmassa no candidato do PCB Yedo Fiuza, dando-lhe a vitória naquela localidade. Ao que tudo indica influenciados pela pregação de LEODEGÁRIO CRISÓSTOMO . Ainda hoje, a velha fábrica guarda numa parede uma pintura de propaganda eleitoral com a foice e o martelo,símbolo dos comunistas, fato documentado pelo PARTIDÃO.
Documentos no Acervo Público Estadual Jordão Emerenciano,Tais como relatórios de agentes dos órgãos de informação dão conta que em meados da década de 1950, O partido comunista funcionava a pleno vapor em nosso município. O golpe militar de 1964 atingiu os socialistas sertanienses se movimentando com certa desenvoltura pelo movimento camponês,pelo meio estudantil,e no cenário político –partidário local: classificador de algodão, Manfried Nigro, descendente deitaliano,vereador eleito pelo PTB , mas que pertencia ao PCB clandestino; Zé Andrade,ex-líder estudantil e liderança camponesa( CRC- companhia de revenda e colonização), quetinha ligações com Francisco Julião e as ligas camponesas e com o Governo Arraes,através de Jadder de Andrade; João Belarmino, que além de notável atleta de futebol, havia sido líder da Juventude, era professor e dono do colégio comercial de Sertânia; Adilson Freire, destacado Professor e advogado; os irmãos Belo(irmãos de “Zé Mago”) Antônio, Emanuel e Joaquim...Jovens estudantes e poetas.(abrimos parênteses para destacar a figura de Maria Belo, a Inez Olidé da Silva,artista plástica, escritora de bastante prestígio na Bélgica, que pertenceu a organizações clandestinas de esquerda, inclusive da luta armada, sendo exilada.Todos acabaram vítimas da feroz perseguição dos golpistas, que auxiliados pela deduragem instalada no poder local,caçaram como feras os que discordavam do novo regime .Prisões,torturas, exílio , desaparecimentos e mortes, pagando caro pela opção ideológica que fizeram,tendo que responder inquérito policial ilitar,reorganizar suas vidas em outras terras, alguns ainda com medo da “sombra” dos anos de chumbo, onde para eliminar adversários do sistema ,acima e abaixo se matava gente...O tenente que comandou as perseguições desta monstruosa caçada humana foi condecorado pelos que governavam Sertânia na época, com direito até a jantar de homenagem , segundo nos revelou o Dr .Edílton Lacerda, estudantes neste período.
A recomposição das forças políticas de esquerda foi tomando forma na resistência democrática à ditadura militar, através do MDB em Sertânia, por intermédio de Wamberto David de Vasconcelos, Micena Pontes, Diércio Ferroviário, Nequinho, Carlos Celso (DER),Prof. Luiz Wilson,João Clímaco Chaves, Evandro Laet, prof. Ivan de Lima, Luciano Teixeira,entre Outros.Movimentos da juventude como o grupo “disparada”, o jornal “O CARCARÁ” e a Semana Estudantil de Arte, serviram de espaço aberto para a contestação política, que vai se cristalizar em 1983, com a fundação do PT em Sertânia e a organização popular em Sindicatos e associações de bairros e do ponto de vista eleitoral com a eleição de Isidoro Simões como primeiro vereador do PT no sertão do MOXOTÓ em 1996.

ENTREVISTA A ANTÔNIO BELO

Antônio Belo ou Tonho Murilo é filho de Augusto Belo e Julieta. Professor, poeta , pensador. Ainda jovem viveu os anos de chumbo do golpe militar em 1’964, com seus irmãos Joaquim (Quinca) e Emanuel (Maninho).irmãos de Zé Mago do bar
Casa do Poeta.


COMO ERA A MILITÂNCIA POLÍTICA DAS FORÇAS DE ESQUERDA PRÉ 64 EM SERTÂNIA?COMO ERA A ATUAÇÃO NOS MOVIMENTOS SOCIAIS(ESTUDANTIL, CAMPONÊS E NA POLÍTICA PARTIDÁRIA)EM SERTÂNIA? QUEM ERAM OS QUADROS E AS LIDERANÇAS?

A militância era muito intensa no movimento estudantil, principalmente nos Congressos . Na política partidária não existiam manifestações ligadas a movimentos sociais de caráter popular. Veja-se que Miguel Arraes foi eleito com apoio da família Lins, que não era exatamente de “esquerda” (pelo menos, tinha uma foto de um comício de Arraes, em Sertânia, onde apareciam o Zé Etelvino e o Zé Oscar, no palanque. Não sei se o apoio chegou até o final da campanha). O movimento camponês eu não conheci. Sei que O Zé Andrade, que era responsável pelo Centro (ou Núcleo) de Revenda e Colonização – CRC, era bem atuante nessa área.


HAVIA ARTICULAÇÃO ENTRE OS GRUPOS E AS PESSOAS QUE PENSAVAM SEMELHANTEMENTE NA CIDADE? COMO ERA ISSO?HAVIA CONTATOS COM GENTE DE FORA?A QUEM ERAM LIGADOS?

Quero, antes, afirmar que na época eu não tinha muito interesse pela questão política, talvez em função da minha idade (15 anos e pensava como adolescente), isso faz com que eu não possa afirmar com exatidão algumas questões que não vivenciei, mesmo estando presente aos fatos, entende o quero dizer, né? Por isso, não posso afirmar se havia articulação entre os grupos e sequer, se existiam “grupos”. Posso afirmar, porém, que entre as pessoas que pensavam semelhantemente, existia articulação, sim. Quando meu irmão Maninho foi presidente do Grêmio Estudantil, houve uma confusão no plenário e eles tiveram que sumir com a Ata. O grupo adversário, onde se destacavam o Zezinho de Carlos, o Nando Grande e o Zé Oscar, queria tomar a Ata. Os contatos com gente de fora eram freqüentes nos Congressos Estudantis, aos quais nunca fui. Entre as pessoas que estiveram em Sertânia, no congresso de lá, lembro—me do Étore Labanca, que depois foi prefeito de São Lourenço da Mata, e que já era de direita, naquela época. Das pessoas que eram da cidade e estudavam fora, destacava-se a Rosali Patu, na época estudante de Direito e que nos trazia muitos livros e informações, mesmo depois do golpe. Dos que moravam na cidade, tinha O João Belarmino, que já era advogado, o Seu Nigro e o Zé Andrade, como os mais atuantes. Meus irmãos, Maninho e Joaquim, entre outros, eram mais ligados ao movimento estudantil

QUAL A VISÃO QUE VCS TINHAM DA CONJUNTURA DAQUELE TEMPO? E SERTÃNIA E SEUS PROBLEMAS, COMO SE INSERIA NESSE CONTEXTO?

A visão era um pouco fragmentada em função da propaganda revolucionária que vinha de Cuba e da contra-revolucionária que vinha dos Estados Unidos. Houve até um evento na estação ferroviária, patrocinado pela Embaixada Americana (através do IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática, que não passava de um capacho onde a CIA limpava a sujeira dos pés), com distribuição de panfletos, exibição de filmes etc, para condenar a revolução cubana. Não sei quem de Sertânia, estava por trás do evento. Os problemas de Sertânia ficavam em segundo plano, em função dos problemas nacionais


A NÍVEL LOCAL OS GRUPOS DE ESQUERDA TINHAM ALGUMA ALIANÇA?QUEM ERAM SEUS ADVERSÁRIOS NA CIDADE?

NÃo sei se existiam alianças. Na realidade, não existiam propriamente grupos, mas pessoas que “pensavam diferente” e que queriam mudar a realidade do país e, diga-se de passagem, eram a minoria. Naquela época a propaganda anticomunista era intensa e o povo tinha muito medo. Parece-me que Arraes teve menos de oitocentos votos na eleição de 1962, no município. Os adversários eram, e sempre foram e serão, as famílias tradicionais da cidade, os representantes do clero e suas famílias, comandadas por monsenhor Urbano e a polícia, representada pelo delegado na época, sargento Evandro Laet, que prendeu meus irmãos.

COMO FORAM OS DIAS QUE ANTECEDERAM O GOLPE MILITAR E DESFECHO EM SERTÃNIA? VOCÊ E SEUS IRMÃOS CHEGARAM A SEREM PRESOS? E COMO SE DEU A CAÇADA AOS OUTROS?

Foram de muita apreensão e muito medo. A propaganda anticomunista era intensa (veja resposta à 3ª pergunta) e as pessoas estavam desconfiadas. Eu não cheguei a ser preso, pois, como declarei, não me interessava por política partidária, apenas lia alguns livros que os meus irmãos recebiam. No dia seguinte ao golpe, meus irmãos fugiram e se esconderam na casa de vovô, na fazenda Cacimba de Cima, que ficava a 30 km de Sertânia, às margens da rodovia que liga esta a Placas (Cruzeiro do Nordeste). Zé, meu irmão mais velho e Nininha, sua esposa, levaram os livros que estavam escondidos no forro do terraço, da casa que morávamos na Rua 06 de março e os enterraram em algum lugar, de madrugada. O Zé Andrade fugiu e ninguém mais soube dele até hoje. O João Miudinho, também fugiu, não sei para onde. Seu Nigro desapareceu por uns tempos, pois, segundo informações de membro da família, fora avisado pelo próprio delegado Evandro, de que seria preso se ficasse na cidade. Após uns quinze dias eu fui à fazenda do meu avô, dizer aos meus irmãos que a “barra” já estava limpa e que podiam voltar. Isso, naturalmente, com o respaldo dos meus pais e amigos, pois eles, na realidade não tinham atividades partidárias, ou, seja lá o que fosse: apenas eram estudantes que se interessavam por política, como muita gente naquela época. Eu e meu irmão Joaquim, estudávamos na mesma série/sala, à noite, no prédio do Ginásio Olavo Bilac, mas éramos do Curso Comercial Básico, que funcionava no mesmo prédio mas com outra administração, no caso, com o professor Arlindo. Aí, à noite, Joaquim estava dentro da sala de aula e chegou o sargento Evandro e deu-lhe “voz de prisão”. (Eu estava fora da sala e só vi quando ele ia sendo levado). Quando cheguei à Rua Velha, ele e Maninho já estavam lá, sendo interrogados pelo comandante da operação. Acho que era apenas para dar um susto neles. O que sei é que o Zé Etelvino declarou que os meninos não eram comunistas e isso foi o suficiente para eles se safarem. Ficou somente como ironia o fato deles terem sido presos pelo sargento Evandro, o mesmo que avisou ao Seu Nigro para fugir...

QUAIS FORÇAS POLITICAS LOCAIS, NA ÉPOCA DELATARAM OS ESQUERDISTAS? É VERDADE QUE O TENENTE CRISTOVÃO ,QUE CHEFIOU AS PERSEGUIÇÕES, FOI CONDECORADO POR AUTORIDADES LOCAIS?

Essa pergunta é polêmica e não me atrevo a responder. Não sei quem delatou o pessoal e não quero ser leviano. Existem especulações, mas acho que meu irmão Maninho deve saber de algo. Prefiro não responder agora. Sobre o tenente Cristóvão, eu não sei se foi condecorado, pois nem sequer sabia o seu nome. Isso deve estar nos Anais da Câmara Municipal de Sertânia...Acredito que sim, pois se até o Dan Mitrione, emérito torturador que esteve no Brasil, a serviço da CIA, ensinando técnicas avançadas de tortura aos militares do exército brasileiro, tem nome de rua em Belo Horizonte...”Mitrione, depois de desgraçar a vida de muitos brasileiros, foi para o Uruguai, onde morreu numa cilada, sendo enterrado em Washington com honras militares” (Memórias de um repórter, Edmar Morel, pág. 251).

VOCÊ CONVIVEU COM NIGRO E FORMIGA? GOSTARIA QUE TRAÇASSE UM PERFIL DE AMBOS?

Com Seu Nigro, sim, bastante até. Freqüentava a casa dele, pois sou amigo da família, especialmente do Marcos, que é médico em São Paulo. Também sou amigo do Alberto, seu genro, mais isso somente aconteceu depois do golpe de 64, quando o Alberto chegou em Sertânia para trabalhar no Banco do Nordeste e nos encantar com a sua inteligência e seu futebol refinado...Seu Nigro era um cara bastante aberto e democrático. Sabia conversar com pessoas mais jovens e sabia ouvir até as “bobagens” que eventualmente dizíamos. Gostava muito de música erudita e conhecia muito de arte e de literatura. Passava muitos livros para nós. Foi a maior e a melhor referência que tive na minha adolescência. Creio que os meus amigos da época devem dizer a mesma coisa. Quanto ao Seu Formiga, apesar de sermos amigo dos seus filhos Einstein (Eu) e José Filho (Joaquim), nunca tive muita abertura com ele, não sei o Joaquim. Eu o achava um cara muito fechado, só vivia em casa, lendo ou fazendo outra coisa – nunca soube qual era a sua atividade profissional. Diziam que ele era comunista. Devia ser, pois era muito fechado, tal qual a Rússia, na época...Me lembro que uma vez a Maria, minha irmã, passou a régua nos varões de ferro do seu muro, do primeiro ao último, fazendo: prá-prá-prá...(todo dia ela fazia isso quando ia e quando voltava do colégio) e ele ficou uma fera, pois detestava barulho e foi reclamar lá em casa. Pai pegou a Maria e deu-lhe a maior surra que ela já levou na vida...


COM FOI VIVER EM SERTÃNIA APÓS 64 , DURANTE A DITADURA MILITAR?DAÍ EM DIANTE COMO FOI SUA VIDA?

Após o golpe, veio a implantação da ditadura. Mas no interior as coisas não mudaram muito. O João Belarmino ficou um tempo fora e eu e maninho ficamos tomando conta da casa dele, pois morávamos na mesma Rua ( Floriano Peixoto) e dormíamos lá. Depois, ele foi para Recife estudar e trabalhar e eu e Joaquim continuamos em Sertânia. Pouco tempo depois, juntamente com o Zezinho de Carlos, Bastinho, Eu, Joaquim, O Marcos Nigro, Zito, Profª Maria José de Seu Deja, resolvemos fazer um Jornal, que se chamou: “Correio do Sertão”. O Jornal teve vida curta, mas foi um sucesso. Falávamos de política abertamente, sem censura. Joaquim publicou um artigo intitulado: “Retrato 3 x 4 do Brasil”, que “metia o pau” no governo. Parecia artigo de jornalista consagrado. Eu escrevi sobre a biblioteca municipal, que não concordava que se chamasse “Biblioteca Presidente Kennedy”, pois ele não tinha nada a ver com as nossas letras, exceto, talvez, as “letras de câmbio”. O Dr. Aristóteles Siqueira Campos, declarou que o nosso jornal não passava de um “Pasquim”. Não sabia ele que, tempos depois, surgiria “O Pasquim”, que fez tanto sucesso na imprensa alternativa, não sei se inspirado no nosso, há, há, há...
No fim de 67/início de 68, fui estudar em Recife. Joaquim e Maninho já estavam lá. Participei do movimento estudantil sem aquele “Tesão”, sem o qual, não há solução (Roberto Freire)...Via muita contradição e nunca cheguei a me “engajar”, de fato. Mas vivi a turbulência de 68, no meio do movimento estudantil de Recife.


NESSA ÉPOCA VOCÊ JÁ ESCREVIA? COMO ERA ESSA RELAÇÃO DA POESIA COM A LUTA POLÍTICA E A REPRESSÃO?

Conforme digo na resposta anterior, eu já escrevia, mas nunca havia escrito poesia. Na faculdade eu gostava de ficar na biblioteca, pois chegava antes do horário letivo. Uma vez peguei um livro de Castro Alves, que era uma coletânea de poemas. O título era: “Poemas Revolucionários”. Foi um choque. Aquilo me deixou deslumbrado e reli várias vezes, pois o tema era atualíssimo, mesmo tendo sido escrito antes de 1871. Até então, a questão política era coisa difusa, essa interferência dos Estados Unidos nos outros países eu só fui mesmo entender, quando li outro livro, o do jornalista José Hamilton Ribeiro, sobre a Guerra do Vietnã. Esse aí, foi o que me abriu as portas do entendimento da geopolítica mundial. Meu contato com a poesia era superficial. Achava bonito, gostava, lia, mas não “envolvia”. Nunca fiz estudos de rimas, métrica e outras coisas mais. Só fui começar a escrever poesias a partir dos anos 80. Lembro-me que em 86, após a eleição que elegeu o Arraes, pela 2ª vez na qual trabalhei como presidente de mesa, fui jantar em Boa Viagem com o Alberto e outro cidadão. Eu escrevera uma poesia e mostrei pro Alberto, que disse ter gostado muito. O outro cidadão leu e disse: Essa não, até Tonho, agora está escrevendo poesia. Confesso que não foi um incentivo dos maiores, mas resisti e escrevo até hoje.

ENTREVISTA CONCEDIDA POR ANTÔNIO BELO A JOSESSANDRO ANDRADE


I.D.E.A.L. JOÃO BELARMINO-INSTITUTO DE DEBATES , ESTUDOS E AÇÕES

LIBERTÁRIAS.


POETAS GUERRILHEIROS


Agitadores, subversivos, revolucionários, como prefiram os conservadores...eles foram acima de tudo idealistas, rebeldes,sonhadores, libertários...e nisso aí sempre bate um coração de poeta...
Nossa homenagem aos que viveram os anos de chumbo e encontraram na poesia a força para Resistir e viver



DE ÁGUAS E DORES DE AMORESDE: ADILSON FREIRE
- A Josessandro Andrade, poeta e filósofo de Sertânia- um extrato de meus amores líquidos_

Eu tenho medo de água
seja de rio ou de amar
A´gua parada ou corrente
que leve ao fundoou à frente
porque eu não sei nadar;

Eu tenho medo de água
inda seja de lavar
lavando leva o perfume
deixa saudade e ciúme
que são coisas de matar;

Eu tenho medo de água
mesmo água de amar
molhando os olhos da gente
ao cair vira semente
Gerando um pé de chorar

Eu tenho medo de água
mesmo em ser de navegar
não tem destino ou lugar
não tem dono e não se apega,
morre, vive, não se entrega
,aguas de amar e desamar...


ADILSON FREIRE é de Sertânia-PE, foi líder estudantil e professor da Escola Olavo Bilac, além do colégio Comercial de Sertânia. Em 1964, foi perseguido pelo golpe Militar, assim como seus companheiros de geração em Sertânia: João Belarmino,
Zé Andrade, e Os irmãos Belo: Emanuel (Maninho)e Joaquim (Quincas). É
Considerado hoje um dos grandes advogados de Pernambuco. Poeta , tem publicado
o livreto “colheita de luz” (1983).


Vai meu Poema

(Antônio Belo)


Vai meu poema,
Vais correr o mundo
Não importa que te digam
Que és um poema vagabundo...

Desces montanha,
Sobes serra
Pois somente o que se ganha
É o que a verdade encerra:
Se, como disse o poeta,
“Bom cabrito é o que mais berra!”

Vai meu poema,
Pois o tempo urge!

Se uma palavra acaba,
Outra, ali, ressurge...

Passas sobre as catedrais
Passas por baixo da ponte


Sobes rios, desces vales,
Vais anunciar um mundo novo
Mas nunca esqueças a “fonte”,
Que é a Língua do povo!

Vai meu poema,
Que nunca feneças
Ante à tirania
Ou à opressão
Pois se um dia,
Negares poesia,
Que nunca mais
Pises nesse chão!

Vai meu poema:
Voa!
Se não te derem asas,
Mesmo assim,
Teu grito ecoa!

Palmas, dezembro/2007


Antônio Belo( Tonho Murilo) é irmão de Zé Mago. Professor, poeta e visionário.Vive no Estado do Tocantins, em Palmas.


A Estrada
(Joaquim Belo)


Deus projetou minha estrada
Com muitas curvas e retas
Deixou-me exemplo de vida
Para atingir minha s metas

Botou também no caminho
Muita subida e descida
e uma paciência de Jó
Para curar as feridas.

Juntei ao seu meu caminho
Como as águas das três ribeiras
Correndo devagarzinho
Nos lados das ribanceiras

Fizemos das nossas outras vidas
Pra continuar a viagem
Pavimentamos os caminhos
Para espalhar a linhagem

Venci todos os obstáculos
Com garra e persistência
Mas só vou parar a viagem
Quando Deus me der a licença.


Joaquim Belo(Quinca) nasceu no dia 03 de agosto de 1946, Em Sertânia- PE,
Filho de Augusto Belo e Julieta
Januário. Participou do movimento estudantil em Sertãnia-PE e chegou a ser preso na época do golpe militar
De 1964, dentro da Escola Olavo Bilac.
Vive em Belém-PA.



PAI NOSSO DO SERTANEJO
(ZÉ ANDRADE)



Pai nosso que estais no céu
santificado é o teu nome
venha a nós o vosso reino
onde não há dor nem fome
perdoa aquele que odeia
da-lhe um coração que ame

Perdoa os nosso pecados
assim como perdoamos
aqueles que nos desprezam
é por estes que oraramos
que não falte água e pão
por estas coisa clamamos

Abençoa os nordestinos
nesta seca do sertão
dando água que molhe a terra
e os livre da escravidão
que os governos se empenhem
em libertar a nação

Obrigado oh!meu bom deus
esta é minha oração
sou pó formado da terra
sou terra desta nação
meu espírito volta a deus
e meu corpo volta ao chão

* ZÉ ANDRADE NASCEU EM SERTÃNIA , A 03 DE OUTBRO DE 1934, NO SÍTIO BARRA, FILHO DE JOÃO FRANCISCO DA SILVA E JOSEFA LOPES DE ANDRADE.
LÍDER ESTUDANTIL, FOI O PRIMEIRO PRESIDENTE DA UNIÃO DOS ESTUDANTES DE SERTÃNIA., ALÉM DE PRESIDENTE DO GRÊMIO ESTUDANTIL DO GINASIO OLAVO BILAC, QUE ERA O FOCO DO MOVIMENTO DOS ESTUDANTES. LIGADO A FRANCISCO JULIÃO, DAS LIGAS CAMPONESAS, FOI O FUNDADOR E PRESIDENTE DA CRC-CENTRO DE REVENDA E COLONIZAÇÃO, QUE VENDIA PRODUTOS E FERRAMENTAS AGRÍCOLAS PARA TRABALHADORES RURAIS A BAIXO CUSTO, CUJA ESTRUTURA CONSEGUIU MONTAR COM O APOIO DE JADDER DE ANDRADE, NO PRIMEIRO GOVERNO ARRAES, EM 1963. COM O GOLPE DE 1964, FOI PERSEGUIDO PELO EXÉRCITO ACUSADO DE “COMUNISTA” E “SUBVERSIVO”. A PERSEGUIÇÃO CONTRA ELE E SUA FAMÍLA FOI IMPLACÁVEL, CHEGANDO INCLUSIVE A PERDER UMA FILHA ELIANE, VÍTIMA DAS PÉSSIMAS CONDIÇÕES DA VIDA CLANDESTINA.PRESO EM PAULO AFONSO-BA , CONSEGUIU A LIBERDADE E RUMOU COM FAMILIARES PARA SÃO PAULO, ONDE VIVEU COMO PROFESSOR ATÉ 1976. DEPOIS REFUGIOU-SE EM MANAUS, ONDE TORNOU-SE BACHAREL EM DIREITO PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO AMAZONAS, OCUPOU DIVERSOS CARGOS E FUNÇÕES PÚBLICAS E DESENVOLVEU O MINISTÉRIO EVANGÉLICO BATISTA..
A FOTO DE APRESENTAÇÃO DESTE BLOG MOSTRA COMÍCIO EM SERTÃNIA EM 1963, COM A PRESENÇA DE MIGUEL ARRAES, AO LADO,NO MICROFONE ZÉ ANDRADE, AO CENTRO ZÉ ETELVINO LINS, AO FUNDO DR. RAUL LAFAYTE E WALTER LAFAYETE, QUE FAZIAM PARTE DO PSD E ERAM ALIDOS DO PTB DE MANFRIED NIGRO, ZÉ ANDRADE E JOÃO BELARMINO, QUE ABRIGAVA OS PIONEIROS DA VERDAEIRA ESQUERDA EM SERTÂNIA.

A JUVENTUDE E SUA PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM SERTÃNIA

JOSESSANDRO ANDRADE

SERTÃNIA, COMO VIMOS ANTERIORMENTE SEMPRE TEVE UMA TRADIÇÃO LIBERTÁRIA EM SEU POVO, EMBORA FOSSE MINORIA , OS QUE CONTESTAVAM A ORDEM VIGENTE MARCAVAM SUAS POSIÇÕES DE FORMA FIRME , CHEGANDO INCLUSIVE A INFLUENCIAR NA FORMAÇÃO DE OUTRAS PESSOAS.
A JUVENTUDE HISTORICAMENTE TEM SIDO A FACE REBELDE DE SERTÂNIA.NA DÉCADA DE 60 HAVIA OS COMUNISTAS, MANFRIED NIGRO, FORMIGA E OUTROS. ADILSON FREIRE E JOÃOBELARMINO, JÁ BEIRAVAM OS TRINTA ANOS , SEGUINDO ENTÃO A CARREIRA DE PROFESSORES. NO MOVIMENTO ESTUDANTIL DESTACAVAM –SE ZÉ ANDRADE E OS IRMÃOS BELO, IRMÃOS DE ZÉ MAGO: JOAQUIM (QUINCA),EMANUEL( MANINHO)EANTÔNIO.PONTIFICAVAM NO GRÊMIO ESTUDANTIL DA ESCOLA OLAVO BILAC.PARTICIPAVAM DE CONGRESSOS SECUNDARISTAS, PROMOVIAM DEBATES E REIVINDICAVAM OS DIRETOS DA CLASE ESTUDANTIL, COMO A MEIA –ENTRADA NO CINE EMOIR, ENTRE OUTROS. .APÓS O GOLPE MILITAR DE 64 QUANDO ACONTECERAM AS PERSEGUIÇÕES, PRISÕES E DESAPARECIMENTOS, HOUVE UM DESMONTE DESTA AGITAÇÃO, MAS NÃO POR MUITO TEMPO. ANTÔNIO , JOAQUIM E EMANUEL BELO, ZITO VITAL, MARIA JOSÉ BARBOSA, BASTINHO, ZEZINHO DE CARLOS CRIARAM O JORNAL CORREIO DO ESTUDANTE,COM BONS TEXTOS SOBRE A CONJUNTURA POLITICA DA ÉPOCA. COMO O MOVIMENTO ESTUDANTIL ESTAVA SENDO MUITO VIGIADO, OS JOVENS SERTANIENSES AGRUPARAM-SE ATRAVÉS DO MOVIMENTO CULTURAL DO GRUPO DISPARADA, CONSTRUINDO UMA ALTERNATIVA DE QUESTIONAMENTO DA REALIDADE POLÍTICA E SOCIAL DA ÉPOCAE INTRODUZINDO NOVAS FORMAS DE PENSAR E AGIR TRAZENDO PARA A CIDADE AS NOVIDADES QUE SURGIAM NO MUNDO A PARTIR DE 1968.
NA DÉCADA DE 70, A CASA DE ESTUDANTES DE SERTÃNIA LOCALIZADA NO RECIFE, PASSA A SER O EPICENTRO DAS IDÉIAS DE RENOVAÇÃO E AVANÇO PARA A PRINCESA DO MOXOTÓ, REUNINDO ESTUDANTES QUE QUERIAM DE CERTA FORMA INTERVIR NA ROTINA DE SUA TERRA NATAL , PRÁ QUE O SEU POVO TIVESSE NOVAS OPÇÕES DDO PONTO DE VISTA POLÍTICO, ECONÔMICO E CULTURAL. ESTE PROCESSO VAI SE PROLONGAR ATÉ OS DIAS ATUAIS, ONDE APESAR DA CULTURADE MASSA , MUITOS JOVENS SERTANIENSES, RESIDENTES AQUI OU NA CASA DE ESTUDANTES, NA CAPITAL PERNAMBUCANA MANTEM OS IDEAIS E A BUSCA PELA TRANSFORMAÇÃO DA MENTALIDADE, CADA VEZ MAIS ALIENADA PELA MIDIA E PELO PODER POLÍTICO E ECONÔMICO DOMINANTE.
COM O FIM DA DITADURA MILITAR E O RETORNO AO ESTADO DEMOCRÁTICO DIRETO,OS ESTUDANTES SERTANIENSES VÃO NOS ANOS 80 E 90, JÁ COM OUTRAS BANDEIRAS, MAS COM IDEALISMO DE SEMPRE, CONTINUAR A SUA LUTA PELA RESISTÊNCIA CULTURAL E PELA EMANCIPAÇÃO DA CONSCIÊNCIA DE CIDADANIA DA POPULAÇÃO.



GRUPO DISPARADA

ÉSIO RAFAEL COSTUMA CONTAR QUE EM 1967, MORAVA EM CARUARU E FAZIA PARTE DO GRUPO EVOLUÇÃO, DE VITAL SANTOS. INSPIRADO POR ESTA PASSAGEM, AO CHEGAR EM SERTÂNIA PEDIU A ANACLETO CARVALHO O NOME DE CINCO PESSOAS PARA FORMAR UM MOVIMENTO DE TEATRO EM SERTÂNIA:HUGO ARAUJO, JAILSON VITAL, ROBERTO PATU, JOSÉ CARNEIRO E HERBERT LEAL. APÓS ALGUMAS REUNIÕES NA ESCOLA DE DONA HÉLIA LEAL, MÃE DE HERBERT, PARA ESCOLHER DO NOME DO GRUPO, DUAS SUGESTÕES FORAM VOTADAS :”DISPARADA”, DE ANACLETO CARVALHO E “MUTAÇÃO”, PROPOSTA DE HERBERT, QUE FOI ESCOLHIDA.COMO ANACLETO TODA VIDA FOI TEIMOSO, CONTA-NOS ÉSIO, AO DIRIGIREM –SE PARA VENDA DO MAESTRO FRANCISQUINHO, NO PÉ DA LADEIRA, QUE VEM DA RUA DO MONTEIRO, PARA SUBIR PARA A ESTAÇÕA FERROVIÁRIA, PARA COMUNICAR A HUGO DE FRANCISQUINHO O RESULTADO DA REUNIÃO,ANACLETO PEGOU O VIOLÃO E COMEÇOU A CANTAR A MÚSICA”DISPARADA”, DE GERALDO VANDRÉ, QUE ESTAVA NO AUGE NAQUELE PERÍODO, E BRADOU: “O NOME DO GRUPO VAI SER DISPARADA MESMO!...” ASSIM COMEÇA-VA A HISTÓRIA DE UM IMPORTANTE MOVIMENTO DA JUVENTUDE SERTANIENSE.
AOS POUCOS FORAM SOMANDO-SE AO GRUPO INICIAL: ZITO VITAL, MARCOS NIGRO,MARCOS CORDEIRO(QUE JÁ MORAVA NO RECIFE), ELISA FREIRE, INALDA LAFAYETE,ROSA NIGRO, MÉRCIA NIGRO, MARCOS FREITAS,AIRON LEITE(OMALA), PAULO DE JOSUÉ, ENTRE OUTROS.VITAL SANTOS , QUE MAIS TARDE GANHARIA UM MOLIERE(MAIOR PRÊMIO DE TEATRO NO BRASIL) , COM O GRUPO FEIRA DE TEATRO POPULAR DE CARUARU,DIRIGIU E MONTOU MUITAS DE SUAS PEÇAS TEATRAIS COMO “COM O PÉ NA COVA”, “RUA DO LIXO, 24”, “ARVORE DOS MAMULENGOS”, BEM COMO TEXTOS DE DIAS GOMES, STANISLAW PONTE PRETA,JORACY CAMARGO, MÁXIMO GORKY, ZÉ CARNEIRO E HOMERO FONSECA(“ A VIDA SOBRE DOIS ÂNGULOS”).
MAS, NA ÂNSIA DE OFERECER A POPULAÇÃO DE SERTÂNIA ALTERNATIVAS CULTURAIS CONSISTENTES O DISPARADA NÃO SE LIMITOU AO TEATRO. CRIOU UM JORNAL, UMA SEMANA DE ARTE E UM BLOCO DE CARNAVAL.
O DISPARADA JORNAL SURGIU NÃO APENAS PARA DIVULGAR AS ATIVIDADES DO GRUPO E PARA SERVIR DE PORTA-VOZ DE INFORMAÇÕES CULTURAIS,MAS ACIMA DE TUDO PARA SER UM ESPAÇO PARA EXPRESSÃO CRÍTICA DAS PESSOAS.AUDACIOSO, O JORNAL SE INTITULAVA “A CÓPIA QUE DEIXA O PASQUIM COM INVEJA”, NUMA COMPARAÇÃO COM O FAMOSO JORNAL HUMORÍSTICO BRASILEIRO.SEGUNDO CONTA-SE APÓS PUBLICAR UM TEXTO QUE TECIA CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS A GESTÃO DO ENTÃO PREFEITO JOÃO VALE, O GRUPO FOI A PREFEITURA, SOLICITAR UM PATROCÍNIO DO GOVERNO MUNICIPAL PARA UMA ATIVIDADE DO DISPARADA.AO CHEGAR LÁ UM ASSESSOR PERGUNTOU AO PREFEITO ,SE ELE IRIA APOIAR A AÇÃO DAQUELES MENINOS QUE HAVAM CRITICADO A SUA ADMINISTRAÇÃO NO JORNAL. AO
QUE JOÃO VALE RESPONDERA: “ELES ESTÃOMOSTRANDO ONDE EU TÔ ERRANDO, PRÁ EU CONSERTAR. ESTÃO ME AJUDANDO MAIS QUE VOCÊS, QUE FICAM AQUI DENTRO DO GABINETE, SÓ ME BAJULANDO E TRAZENDO FOFOCA, QUE EU JÁ DISSE QUE DETESTO”.FOI O SUFICIENTE PARA O ENTÃO PREFEITO CAIR NA GRAÇA DO DISPARADA OS“MENINOS”.PASSAREM A TER O APREÇO DO GESTOR MUNICIPAL, UMA RELAÇÃO DE RESPEITO E ADIMIRAÇÃO MÚTUA, APESAR DA DIFERENÇA IDEOLÓGICA.QUANDOELE FALECEU AINDA NO EXERCÍCIO DO MANDATO, O GRUPO DISPARADA ENCENOU “UMA HOMENAGEM A JOÃO VALE”, TEXTO DE JOSÉ CARNEIRO.

INSPIRADOS NA SEMANA DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO DE 1922, O GRUPO DIS PARADA REALIZOU A SEMANA DE ARTE DE SERTÂNIA, COM PEÇAS TEATRAIS DO GRUPO DE VITAL SANTOS(CARUARU-PE), INCLUSIVE A POLÊMICA ENCENAÇÃO DO POEMA “O UIVO” DO POETA DA GERAÇÃO BEAT, ALLAN GUINSBERG, PALESTRA COM O DEPUTADO FERNANDO LYRA, EXPOSIÇÕES DOS PINTORES SÉRGIO LEMOS, PAULO BRUSCKY EMARCOS CORDEIRO, MÚSICA COM ZÉ MARCOLINO, CANTADORES LOURIVAL BATISTA E PINTO DO MONTEIRO,ENTRE OUTROS.ESTA SEMANA, ANUALMENTE FOI REALIZADA ,DURANTE DOIS OUTRÊS ANOS SEGUIDOS, SENDO O EMBRIÃO DO QUE MAIS TARDE SERIA A SEMANA ESTUDANTIL, POSTERIORMENTE SEMANA ESTUDANTIL DE ARTE. INCLUSIVE SERVIU DE INFLUÊNCIA PARA QUE EM 1971, JOSÉ AUGUSTO E OUTROS ESTUDANTES CRIASSEM A FESTA UNIVERSITÁRIA DA SÃO JOSÉ DO EGITO, CUJA PRIMEIRA EDIÇÃO O DISPARADA PPARTICIPOU LEVANDO TRÊS PEÇAS TEATRAIS, UM TIME DE FUTSAL ,EXPOSIÇÕES E MÚSICOS.
O DISPARADA FOI O PRIMEIRO BLOCO DE CARNAVAL A ADMITIR MULHERES EM SUAS FILEIRAS.ANTES DELE ,SÓ AS DAMAS DA NOITE DO “CORAÇÃO MAGOADO”, QUE REUNIA AS PROFISSIONAIS DO SEXO DA ZONA DO BAIXO MERITRÍCIO.O XERÉM REUNIA OS FILHSO DA ELITE, DAS FAMÍLIAS TRADICIONAIS E DA CLASSE MÉDIA ALTA.QUANDO O DISPARADA RESOLVEU ROMPER COM O MACHISMO , MUITAS MULHERES ADERIRAM AO BLOCO, BOA PARTE DELES COM NAMORADO NO BLOCO RIVAL ,LEVANDO-OS A LOUCURA.EM UM CARNAVAL, CHATEADOS COM O MULHERIL EM SUA S FILEIRAS , O XERÉM SAIU COM ESTE CARTAZ NA FRENTE DO DESFILE, QUE ERA UMA SADIA PROVOCAÇÃO”NÃO DISPAREMEM NÓS”. A REPERCUSSÃO FOI IMEDIATA.NO OUTRO DIA, O DISPARADA, APÓS REUNIR O SEU ALTO COMANDO, SAIU COM OUTRO CARTAZ, COM UMA RESPOSTA AO XERÉM, BEM HUMORADA:”NEM COM LEITE PRESTA...”
A REVOLUÇÃO DOS COSTUMES DETONADA PELO MUNDO, O MOVIMENTO HIPEE,AS LUTAS FEMINISTAS CHEGARAM A SERTÃNIA ATRAVÉS DE ESTUDANTES QUE MORAVA NA CAPITAL E DO GRUPO DISPARADA.ELES CONTRIBUIRAM MUITO PARA RENOVAR A CULTURA ÉTICA DA CIDADE , BASEADA NUM MORALISMO RÍGIDO, EIVADO DE UM CATOLICISMO ULTRA CONSERVADOR.LUGARES PROIBIDOS PARA MULHERES ANDAREM COMO BARES E SINUCAS,O QUE ERA IMPENSÁVEL E DESMORALIZANTE, FORAM TABUS QUEBRADOS.ALGUNS SEGUIRAM A VIDA DE HIPPES, COMO DJELSON FREIRE E ZITO VITAL, ABANDONANDO ANOS MAIS TARDE
HAVIA SIMPATIA POR AQUELES JOVENS, ALEGRES E RUIDOS,QUE NAS FÉRIAS SURPREEN-DIAM AS RUAS COM OS FAMOSOS “ASSUSTADOS” , FESTINHAS NAS CASA DE FAMÍLIA E COM SERENATAS, MAS DESPERTAVAM TAMBÉM DESCONFIANÇA E A REAÇÃO DOS SETORES MAIS CONSERVADORES DA CIDADE QUE NÃO VIAM COM BONS OLHOS AQUELE IRREVERÊNCIA, AQUELES CABELOS CUMPRIDOS , OS VIOLÕES, A POSTURA MEIO CIGANA E CIRCENSE DOS JOVENS DOS ANOS 60 E 70, QUE TRAZIAM TANTAS NOVIDADES PRÁ UMA PACATA COLÔNIA DO MOXOTÓ PERNAMBUCANO. A IGNORÂNCIA PRODUZIU MUITOS BOATOS. PRIMEIRO DE QUE ELES,(QUE ESTAVAM MUITO MAIS PRO “PAZ E AMOR” DA GERAÇÃO “PEACE AND LOVE”)TERIAM ARMAS ESCONDIDAS PARA UMA GUERRILHA, DEPOIS DE QUE TODO MUNDO DO DISPARADA FUMAVA MACONHA, OU DE QUE ERAM OS HOMESN GAYS E AS MULHERS SAPATÕES.COMO SE VÊ O DESPREPARO PARA ENTENDER AS MUDANÇAS SOCIAIS E A FALTA DE COMPETÊNCIA PARA INTERPRETÁ-LAS,É ANTIGA NA SUA CONSEQUÊNCIA DE GERAR CALÚNIAS, DISTORÇÕES, PRECONCEITOS, INJUSTIÇAS E ABSURDOS.
DESTA MANEIRA PODEMOS ENTENDER, QUE O GRUPO DISPARADA FOI UM DIVISOR DE ÁGUAS DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA NA VIDA SOCIAL E CULTURAL DA SOCIEDADE SERTANIENSE, PARTICULARMENTE DA JUVENTUDE ESTUDANTIL DE NOSSO MUNICÍPIO.

JORNAL CARCARÁ E O TEATRO DE ESTUDANTES

EM PLENA DITADURA MILITAR, APÓS O FIM DO GRUPO DISPARADA ,EM1974, UMA NOVA GERAÇÃO DE JOVENS SURGE EM SERTÂNIA. ERA A FASE DE LUTA CONTRA A CENSURA, PELA ANISTIA AOS PRESOS POLÍTICOS. DISCUTIA-SE A INFLUÊNCIA DAS MULTINACIONAIS NA VIDA BRASILEIRA,AS COMUNIDADES ECLESIASIAIS DE BASE DA IGREJA CATÓLICA PROGRESSISTA DESPONTAVAM COM TODO FERVOR, NA LUTA POR TERRA, TRABALHO , MORADIA E LIBERDADE.A POESIA POPULAR NORDESTINA ERA REDESCOBERTA PELA MPB.
EM SERTÂNIA, OUTROS JOVENS COMEÇAM A VIVER ESTE RICO PERÍODO DA CENA CULTURAL DA CIDADE.TEMPOS DA SEMANA ESTUDANTIL,EVENTO DE CULTURA E ESPORTE , QUE DISCUTIA OS GRANDES TEMAS NACIONAIS, TRAZIA SHOWS MUSICAIS , PEÇAS TEATRAIS,MOSTRA DE FILMES POPULARES, MOVIMENTO SUPER 8, VIVENCIAL DIVERSIONES, ETC. OS LÍDERES DESTE MOVIMENTO ERAM WILSON FREIRE(BIDA)E LUCIANO TEIXEIRA.PARTICIPAVAM TAMBÉM FRANCISCO FERREIRA(CHICO DE NESTOR),GRIPA DE SERTÃNIA, EDSON BARBOSA (DE DUCA),AIRTON FREIRE,FERNANDO PATRIOTA, CIRILO ARAUJO.
ALÉM DA SEMANA ESTUDANTIL, AS ATENÇÕES DESTE GRUPO ESTAVAM VOLTADAS PARAO TEATRO. A PEÇA TEATRAL “RUA DA CRUZ, SEM NÚMERO”, ENFOCA O COTIDIANO DE MISÉRIA DE UMA CONHECIDA RUA DA PERIFERIA DE SERTÂNIA.ESCRITO POR WILSON FREIRE, COM TRILHA MUSICAL ORIGINAL DE DE RENILDO SIQUEIRA(GRIPA DE SERTÂNIA),O ENREDO ABORDA A QUESTÃO DA HABITAÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS , A MORTALIDADE INFANTIL,A FOME, ALIENAÇÃO, ENTRE OUTRAS QUESTÕES.NO ELNCO ALÉM DE WILSON E GRIPA, O POETA LUIZ CARLOS MONTEIRO, EDSON DE DUCA, O CINEASTA DJAIR FREIRE, O CANTOR ROBERTO LOPES, O ARTISTA PLÁTICO ANTÔNIO PATRIOTA(TOINHO DE ANTÔNIO DOTÔ),LINADJA,CHICO DE NESTOR, LUCIANO TEIXEIRA,CIRILO ARAUJO,ASSIS JÓIA, NENA DE DEJA, EDMILSON FUMACHU, GILDETE, ELBANI FREIRE,ZUZA DE ZÉ DE ADAUTO,ASSIS JÓIA, ENTRE OUTROS. HAVIA AINDA WALMAR COMO MÚSICO, JUNTO COM GRIPA. APEÇA TEVE GRANDE REPERCUSSÃO NA CIDADE E FOI LEVADA A VÁRIAS CIDADES.POSTERIORMENTE UM GRUPO DO COLÉGIO NÓBREGA EM RECIFE TAMBÉM A ENCENOU-A.HOUVE AINDA A MONTAGEM DE “A TRISTE PARTIDA”,POEMA DE PATATIVA DO ASSARÉ, COM DIREÇÃO DE AIRTTON FREIRE, ATUALMENTE PADRE NA RUA DO LIXO, EM ARCOVERDE.POR ÚLTIMO, A PEÇA “A UTOPIA”, DE JAIRO ARAUJO, QUE INCLUSIVE TRABALHAVA NA PEÇA COMO UM PINTOR , QUE PASSA TODA A AÇÃO, PINTANDO UM QUADRO, QUE SE REVELA PARA O PÚBLICO NO FINAL DA HISTÓRIA, A ENAS COM “FIM“, PINTADO NA TELA...A PEÇA FOPI PROIBIDA DE SER ENCENADA EM SERTÂNIA,POR TER UMA TRILHA SONORA COM OS MALDITOS DA ÉPOCA JIMMY HENDRIX, NO DIA DA PROIBIÇÃO,OS INTEGRANTES DO GRUPO FIZERAM UM PROTESTO, ORGANIZANDO NO AMÉRICA ESPORTE CLUBE, UMA FESTA “DISCOTECA”, ENTITULADA “O ROCK CENSURADO”.CASA CHEIA...
ANSIOSOS PARA EXPRESSAR-SE DIANTE DA REALIDADE POLÍTCA NACIONAL E QUEBRAR AS ALGEMAS DA ALIENAÇÃO LOCAL, ESTE MESMO GRUPO DE JOVENS ,CRIOU EM 1981, O JORNAL “O CARCARÁ”, CUJO TÍTULO LEMBRA A CANÇÃO DE JOÃO DO VALE, CANTADA POR CHICO BUARQUE DE HOLANDA.NUM FORMATO DE ÁLBUM, COM UMA CHARGE NA CAPA, QUE LEMBRA O ESTILO DOS JORNAIS ALTERNATIVOS DAQUELE TEMPO.RECEBEM ATENÇÃO DOS “MENINOS” A QUESTÃO DA CRISE ENERGÉTICA, A SECA, E A SITUAÇAÕ DE DESCASO DA EDUCAÇÃO E DAS MORADIAS ESTUDANTIS. EM RELAÇÃO Á SERTÂNIA,” O CARCARÁ” TRAZ DENÚNCIAS SOBRE A PÉSSIMA SITUÇÃO DA CASA DE ESTUDANTE, ONDE O ENTÃO INTERVENTOR TARCISO BEZERRA, NOMEADO PELO PREFEITO DA ÉPOCA, AGIA AO ARREPIO NDA LEI, COM ARROGÃNCIA , PREPOTÊNCIA E EXPULSANDO SÓCIOS QUE NÃO FOSSEM DE SUA CORRENTE POLÍTICA, PROMOVENDO CAMPANHAS DE FILIAÇÃO AO PDS 1, COM INTIMIDAÇÃO AOS SÓCIOS. O JORNAL TRANSCREVE AINDA REPORTAGEM PUBLICADA NO JORNAL DO BRASIL, COM O TÍTULO DE “A ENGORA”, ONDE DETALHA O ESCÃNDALO DA EMERGÊNCIA INCLUSIVE COM FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS ENVOLVENDO ALTAS AUTORIDADES DAQUELES TEMPOS.MAIS ADIANTE, O JORNAL EXPÕE O DRAMA DOS MORADORES DA RUA DA CRUZ, AMEAÇADOS DE EXPULSÃO E DEMOLIÇÃO DE SUAS CASA POR PARTE DE UM LATIFUNDIÁRIO DA CIDADE COM COBERTURA DO PODER MUNICIPAL.ERAM REDATORES DO CARCARÁ NORMANDO VITAL(NORMANDINHO), LUCIANO TEIXEIRA, WILSON FREIRE,ESDSON BARBOSA(DE DUCA)MÁRIO MÁRCIO, CARLOS PATRIOTA, PAULO PATRIOTA (FILHOS DE IRENO E D. ROCILDA),CIRILO ARAUJO, ASSIA JÓIA,CHICO DE NESTOR, LUIZ CARLOS MONTEIRO, RENILDO SIQUEIRA(GRIPA), AIRTON FREIRE (HOJE PADRE).HAVIA TAMBÉM ESPAÇO PARA POEMAS DE THIAGO DE MELO, MAIAKOVSKY(DEPOIS DESCOBRIU-SE QUE ERA DE EDUARDO ALVES),WILSON FREIREE EDSON BARBOSA(ASSINAVA EDBAJO). O CARCARÁ FEZ UM SUCESSO ENORME , MAS QUE PENA...DUROU APENAS DOIS NÚMEROS...O SUFICIENTE PARA COLOCAR OS CONSERVADORES DA CIDADE EM POLVOROSA...
OS ESTUDANTES DA ÉPOCA PRODUZIRAM MUITO. WILSON FREIRE(BIDA) PUBLICOU OS LIVROS”POR QUE, MÃE MORENA?”, “ESPAÇO DE AUSÊNCIA”9COM PREFÁCIO DE PINTO DO MONTEIRO” E FOLHETOS DE CORDEL, GRIPA DESERTÃNIA DESENVOLVIA PARCERIA COM WILSON MUSICANDO POEMAS SEUS, DE PINTO DO MONTEIRO E GATO VELHO (REPENTISTAS COM OS QUAIS CONVIVIAM),LANÇARAM LIVROS LUIZ CARLOS “NA SOLIDÃO DO NEON”,ADA RODRIGUES”PASSO INCERTO DA POESIA NUA” , WALMAR GANHOU FESTIVAIS DE MÚSICAE DJAIR FREIRE FEZ UM FILME DOCUMENTÁRIO EM SUPER-8”PINTO DO MONTEIRO” .

BATALHA DOS GUARARAPES-ospoetas no campo de batalha-

Mário Hélio

"Não faço versos de guerra, não faço porque não sei". As frases do poeta Manuel Bandeira, que faria 112 anos, amanhã, dia em que se comemoram os 350 anos da primeira Batalha dos Guararapes, parecem ser seguidas também por quase todos os autores brasileiros. Pouquíssimos têm interesse épico. Daí a escassez de poemas sobre episódios históricos os mais relevantes, na origem do próprio nacionalismo do país. Contam-se nos dedos os que se ocuparam de fazer poesia coma Batalha dos Guararapes, que, além de nomear uma cidade inteira, batiza também o aeroporto do Recife e uma de suas avenidas centrais.
Na prosa de ficção, o tema praticamente inexiste. Sobram os estudos históricos, que incluem a própria etimologia de Guararapes, esclarecida por Alfredo de Carvalho citando Fernandes da Gama: "Gararapes (sic) significa no idioma dos nossos índios estrondo; e o ruído, que as águas das chuvas fazem, quando se despenham por esses montes, assemelhando-se ao estrondo, que faz uma catarata, quando as águas se precipitam, induziu os índios a dar-lhe este nome", e, recorrendo a Teodoro Sampaio, acrescenta: "Guararapes é simples corruptela de Guarará-pe e se traduz - nos tambores."
O primeiro nome importante a ser lembrado entre os poetas que cantaram a Restauração Pernambucana é o de Natividade Saldanha, revolucionário de 1824. Ele escreveu diversas odes heróicas, para André Vidal de Negreiros, Francisco Rabelo, Henrique Dias, Filipe Camarão. "Porém, ó musa bela, o carro volta/ Aos altos Guararapes/ Neles procura o forte brasileiro/ Tigre sedento, lobo carniceiro,/ Que dardejando a espada em dura guerra/ Faz tremer ao seu nome o mar e a terra": uma estrofe da ode pindárica dedicada a Antonio Filipe Camarão.

EM VERSOS - Da atualidade,podem ser citados quatro poetas pernambucanos que se ocuparam de cantar os feitos nos montes Guararapes: César Leal, Vital Corrêa de Araújo e Marcos Cordeiro. Todos com a singularidade de ligarem versos e pintura. Do último porque, além de poeta, é pintor reconhecido, tiram-se os textos do Romançal Paranambuco (adaptado pelo próprio autor para o teatro). Araújo escreveu o seu Gesta Pernambucana para "ilustrar" alguns trabalhos de um álbum de gravura da pintora e escritora Ladjane Bandeira. O caso de César Leal, que tem versos num longo painel na rua das Flores, no centro do Recife, juntamente com Ariano Suassuna, é semelhante: em 1961, foi encomendado ao pintor Francisco Brennand um painel sobre Guararares, e o artista, por sua vez, encomendou os poemas. "Fiz o poema antes do painel de Brennand ficar pronto. Publiquei no Diario de Pernambuco, e ele se entusiasmou com os versos", conta Leal.
A história completa do mural está contada por Weydson Barros Leal, no ensaio biográfico que escreveu para o livro Francisco Brennand (Sebrae, 1998). "Durante a execução, houve algumas semanas de paralisação devido à conturbada renúncia de Jânio Quadros. Na volta ao trabalho, o artista decidiu incluir as figuras do ex-presidente e do amigo Ariano Suassuna como comandantes que lutavam pela soberania nacional. Numa outra analogia histórica surgia, empunhada pelos combatentes, a imagem da bandeira brasileira atual, numa clara indicação de que aquela batalha era moderna, contemporânea e viva, e que agora éramos invadidos de outras maneiras", explica Barros Leal.
César Leal conta que o poema para Francisco Barreto de Menezes, e outros que lutaram contra os holandeses (todos incluídos no seu livro Os Heróis, ilustrado por Brennand) causou protestos de políticos de direita (Leal e Brennand foram auxiliares do governador Miguel Arraes no seu primeiro governo). "Implicaram sobretudo com o texto que fiz sobre André Vidal de Negreiros, em que digo, na primeira estrofe: A Guerra tem suas leis e eu as cumpri/ com a força de quem sabe o que convêm,/ por isso, perdoai, nobres Senhores/ se em fogo eu cobri tantos Engenhos."
O texto de César Leal sobre os Guararapes é o que se pode chamar de poema interativo. Escreveu-o como alguns epitáfios gregos, que são mensagens dirigidas do herói ao seu leitor: "Saudação do Comandante de Campo Barreto de Menezes: "- Bom dia, pernambucanos!/ Com vocês estou aqui neste mural./ " - Que fizestes para tanto merecê-lo?"/ Dirão os que de estranha Pátria são/ mas não vocês/ cujos avós comigo edificaram/ - a fogo e faca e patas de cavalo -/ o orgulho da Pátria em Guararapes!"
"COISA DE SUBVERSIVO" - "Fiz vários poemas para os heróis pernambucanos, não sou dado a essas homenagens, mas acho a batalha dos Guararapes bonita, e um homem como João Fernandes Vieira demonstrou uma coragem estupenda", afirma Leal. "O curioso é que talvez esses textos em que exalto os heróis pernambucanos tenham causado raiva nas pessoas, que consideravam os versos coisa de subversivo, preferiam os versos de Mauro Mota, muito mais amenos, sobre o assunto".
O poeta e pintor Marcos Cordeiro preferiu a fôrma popular do mourão: "Em Pernambuco a Holanda/ tudo transforma em dinheiro./ - Vai açúcar e vai madeira/ pelos navios cargueiros./ - Para as cortes européias/ levam ouro e as batéias/ da terra dos altos coqueiros.// (...) Livre está Tejucupapo,/ Itamaracá e o Pontal./ - Cai o Forte de Altenar,/ a guerra é já crucial./ - Dos Guararapes a Holanda/ de Pernambuco se manda/ em derrota colossal."
O caso de Vital Corrêa de Araújo é de um poeta que resolveu "legendar" gravuras, recriando sua idéia plástica numa descrição ou narração. A sua Gesta Pernambucana é em grande baseada no álbum de gravuras de Ladjane Bandeira sobre a Restauração Pernambucana. No livro há um poema especificamente sobre a primeira batalha dos Guararapes: "Eles buscam/ com o aval da própria vida/ nas grimpas/ dos Montes Guararapes/ a estrepitosa e dura/ vitória da raça/ batismo sangrento/ parto de um povo/ valoroso lucideno."

No comentário que escreveu a respeito das gravuras de Ladjane Bandeira, o historiador José Antonio Gonsalves de Mello, faz uma síntese das principais imagens do Brasil holandês, a partir dos contemporâneos da dominação e das batalhas. Fernandes Vieira teria mandado pintar dois grandes painéis sobre a batalha dos Guararapes e outras, como a das Tabocas e da casa-forte de D. Ana Pais, na Várzea. "No século XVIII os feitos de armas não foram esquecidos. Conhecem-se dos primeiros anos desse século (1709) três painéis mandados pintar pelos vereadores da Câmara de Olinda, representando cada uma das batalhas maiores da guerra contra holandeses (conservados no Museu do Estado)", escreve o historiador.

*MÁRIO HÉLIO É JORNALISTA, PROFESSOR, ESCRIOR E POETA.

UMA FLOR SEM PÁSSARO É SOCIALISMO SEM MÚSICA

(LAILTON ARAÚJO)

Resumo:
O tal socialismo era real ou fruto dos “porres” nas mesas e rodas movidas a álcool?


É manhã e chove! Um vento bem suave anuncia a próxima estação... A primavera chegará? Será o período em que as flores - ainda vermelhas - entrarão em desarmonia com algumas espécies de pássaros? O socialismo acabará?

A nova primavera trará boas recordações de outras épocas. Eram divertidas as discussões políticas, regadas à cerveja, cachaça, whisky e conhaque! Existia uma certa preocupação com os rumos da nação brasileira e o mundo. Universitários, doutores, operários, artistas, sacerdotes, donas de casa e grandes pensadores, participavam dos movimentos políticos de condução e reconstrução nacional. Bebia-se o sonho socialista! O tal socialismo era real ou fruto dos “porres” nas mesas e rodas movidas a álcool? É preciso acordar em plena manhã, abrir olhos e ver que a utopia do passado virou uma tremenda dor de cabeça. O socialismo acabou depois da bebedeira?

Boa parte dos administradores públicos do Brasil (socialistas, capitalistas e sem “istas”) é maquiavélica... Eles varrem os problemas sociais do país para debaixo do tapete. Serão tapetes vermelhos, azuis, verdes ou amarelos? O camelô que vende o “CD pirata” será preso? Os apontadores do “jogo do bicho” serão reprimidos? A meninada que dança o “Funk Carioca” será discriminada? Os morros e vielas do acaso serão aplanados para a construção de novos aeroportos, praças, ruas, avenidas, condomínios de luxo, e novos cartões postais das metrópoles tupiniquins? O socialismo acabou na paisagem capitalista?

Caminhando e cantando (lembrando Vandré) nas ruas da capital paulista no início da semana, vi muitas pessoas defendendo alguns “trocados”... Eram ambulantes! Vendiam CD’s piratas, churrasquinhos de gato, cachorro-quente e outros produtos que não consigo lembrar. Tomei coragem e conversei com um dos ambulantes. Fiquei surpreso! O tal “mascate” é diplomado na vida... “Não se joga sujeira varrida debaixo de tapete” – falou o sujeito! Ouvimos gritos... Ele correu! O “rapa” chegou... Percebi que a “porrada” da “Guarda Metropolitana de São Paulo” machuca a cabeça, o ego e o bolso de qualquer cristão ou ateu!

Algumas pessoas sobem na vida! Quando chegam ao poder - os que não possuem caráter - vendem o corpo, a alma e a dignidade! São bons atores! Para a população desinformada: são os salvadores da pátria. Será que possuem a inteligência, sensibilidade e competência de um estadista? Boas intenções ou tentativas não saciam a fome, não educam, e não devolvem a dignidade perdida de qualquer ser humano. As populações carentes e não carentes necessitam de benefícios sociais associados à criação de postos de trabalho e escolas. A ajuda governamental ou privada (esmola disfarçada) vicia o cidadão! O socialismo acabou ou é uma necessidade política momentânea? O socialismo acabou sem música?

O Brasil nas futuras primaveras espera soluções reais. Seus cidadãos querem salas amplas, tapetes sem sujeiras por cima ou por baixo, sem maquiagem política e sem cara de carpete burguês! O socialismo acabou ou é uma farsa?


Biografia:
*** LAILTON ARAÚJO *** 1) Sou músico, arranjador, compositor, cantor, estudante de Ciências Biológicas, ex-professor voluntário de Biologia e Geografia, pesquisador de ritmos regionais brasileiros e aprendiz de escritor nas horas vagas. *** 2) Nasci em Sertânia - Estado de Pernambuco - Brasil. Trabalho há 26 anos nas áreas de produção musical, divulgação, agenciamento artístico e gravação em estúdio. *** 3) Fundei em 1981 a BANDA MOXOTÓ - grupo nordestino de renome nacional - e sou um dos principais componentes. *** 4) Desenvolvendo carreira solo desde 2003, apresento o show de MPB - "TERRA E MAR". Nesse evento existe a poesia em fusão com a musicalidade universal. O amor, a esperança, a ecologia e a nova visão do ser humano, são enredos necessários à paz e harmonia do planeta Terra. *** 5) Contatos: lailtonaraujo@ig.com.br